terça-feira, 25 de setembro de 2007

Hoje

sábado, 22 de setembro de 2007

Vernissage


Uma Formiga na Saia do Universo

Individual de Marco Mendes

22 de Setembro de 2007, Galeria Plumba, Porto

O Texto que o Marco me obrigou a escrever

por Lígia Paz

Quando conheci a obra daquele que viria a ser meu companheiro, Marco Mendes, jamais poderia imaginar o que me esperava. Nos momentos seguintes à confrontação, senti-me como uma ostra num campanário: afogueada e surpreendida perante a sua impulsiva necessidade de fazer auto-retratos de anões viris; e assustada com a íntima pulsão latente do seu traço. Temi que tentasse regar-me com sumo de limão, para depois me devorar. Não estive longe da verdade.

Começemos pelo princípio: a sala da casa partilhada por Marco Mendes com o seu parceiro d’A Mula, Miguel Carneiro, possui contornos míticos. Cenário ora de festas, de uma mesa de ping-pong, do sofá onde tanta gente dormiu e foi retratada, e das paredes cobertas de desenhos e desabafos diversos. Era um ambiente que cheirava a decadência e partilha, a excessos e amigos, e à incontornável existência da piaçaba decrépita da casa de banho. Ao sexo, drogas, álcool e rock’n’roll associavam-se pelas paredes testemunhos autobiográficos e plurais que primam pela sua transparência, crueza e intimidade envolvente. E, muito frequentemente, um inesperado humor capaz de surpreender um arenque bilioso.

Auto-centrado e contemplativo-romântico, decadente e alegre, minucioso e javardo, a sensibilidade do Marco revela contradições e complexidades, as quais ganham sentido e naturalidade ao longo do seu trabalho. Desta forma, ao virtuosismo técnico somam-se as rasuras e emendas, à melancolia junta-se a pornografia, à representação do mundo real une-se o absurdo e o ficcionado. A um lado negro, nostálgico, angustiado ou por vezes solitário, acresce um humor por vezes inverosímil, outras mórbido.

Em toda a crueza do seu realismo social, sem artifícios ou auto-complacências, as representações e retratos dos que lhe são mais próximos são também um testemunho geracional e de época. É também notória a existência de um sentimento de partilha, de identidade e de pertença – a um país, com as suas contrariedades e cultura; e a uma comunidade, unida pela partilha de valores, de experiências, e de cerveja a oitenta cêntimos.

As características do trabalho podem, ou não, ser catalogadas em diferentes tipos de abordagem. No “desenho à vista”, os planos são prolongados e os enquadramentos inusitados; surge com alguma frequência um sentimento de tranquilidade nostálgica, atento a pequenos detalhes e a facetas várias da vida quotidiana. Há uma preocupação em capturar o ritmo fluído das palavras e acontecimentos, num texto contínuo e frequentemente corrigido, riscado, e deixado estar como se a borracha não existisse.

Já no trabalho de banda desenhada (e de “banda desenhada à vista”, em tempo real) são exploradas as possibilidades rítmicas inerentes ao formato, sendo o desenho frequentemente mais explosivo, emotivo, e surpreendentemente cómico. É sobretudo neste registo que os indivíduos retratados mais se distanciam das suas personagens ficcionadas. Nesta pseudo-realidade criada pelo punho do autor, atravessam o espectro do melhor e do pior que todos encerramos - o absurdo, o lado negro, o prazer, a alegria, o falhanço e as limitações sexuais; os nossos gostos, fragilidades, perversidades e manias. As interpretações e reflexões sobre a realidade ganham contornos mais críticos e políticos, e a sátira ganha destaque.

Desde o ano de 2004 e até à noite anterior à inauguração, Marco Mendes abdicou de um cargo de direcção numa empresa cotada em Wall Street, de camareiro de strippers em Hong-Kong, e de lavar a roupa com a devida frequência para afincadamente erguer a produção artística que poderão, a partir de hoje, ter o prazer de saborear na Galeria Plumba.


sexta-feira, 14 de setembro de 2007

BD em Tela

domingo, 9 de setembro de 2007

Exposição Individual